Segunda, 26 Março 2007 21:00
À margem do desenvolvimento
O desempregado Edézio Valdeus, de 50 anos, trabalhou mais de uma década
na Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), limpando armazéns e
O
desempregado Edézio Valdeus, de 50 anos, trabalhou mais de uma década
na Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), limpando armazéns e
executando qualquer serviço determinado. Era o chamado “quebra galho”.
Entre 1980 e 1991, fazia parte da rotina deste trabalhador ir ao cais de
segunda a sexta-feira, às vezes também durante os finais de semana.
Hoje,
16 anos após sair da estatal, Edézio voltou a enxergar no Porto de
Santos um companheiro. Infelizmente, ele não arrumou nenhum novo emprego
em um terminal. O desempregado, sem ter para onde correr após ser
despejado, mudou-se para a Favela da Vila Sapo, pequena comunidade que
resiste ao tempo e está alojada em frente ao Armazém 40, separada do
porto apenas por uma avenida.
“Eu
saí do porto por ter muitas dívidas. Acabam incentivando minha
demissão, e para ganhar uma grana tive que entrar nessa. De lá para cá,
meu padrão de vida caiu muito. É uma ironia muito grande morar aqui, num
barraco, ao lado de um porto tão rico que me garantiu o sustento por
anos”.
Junto
com Edézio, que está na Vila Sapo há dois anos, dividem o mesmo terreno
outras 50 famílias. A favela fica em terreno demarcado pela Avenida
Mário Covas (antiga Portuária) e pelas ruas República do Equador,
Carlos Escobar e Amélia Leuchtemberg, na Ponta da Praia, há pelo menos
20 anos. Lá, apesar de todas as ilegalidades, há água encanada,
regularizada e abastecimento normal de energia elétrica.
De
acordo com o estivador e líder comunitário da Vila Sapo, Rui Mateus de
Almeida Júnior, toda a área ocupada pelos barracos pertence à União. Ele
admite ter ciência de que uma remoção será inevitável caso o Governo
Federal queira fazer uso do terreno, em um porto que sofre a cada dia
com a falta de espaço para expansão.
“Mas
não sairemos tão facilmente. Não temos culpa de não ter dinheiro,
acabamos ocupando esta área não por vontade própria, mas porque muitos
daqui não tinham para onde fugir em momentos difíceis, de falta de
grana. Para os que acham que adoramos o local, não custa lembrar que mal
dormimos de noite com o barulho dos caminhões e pátios que armazenam
contêineres aqui na região”.
O
que se percebe ao entrar na Vila Sapo é que o Porto de Santos cresce a
cada dia, sem tomar ciência de que há gente morando em suas
proximidades. Por isso, quem mora na favela tem como vizinho um terreno
usado pela Codesp como depósito de entulhos retirados de armazéns
antigos, trazendo para a rotina dos moradores ratos, baratas e muita
sujeira.
“De
tarde, tem dia que as crianças não saem de casa, pois tem muito pó
saindo do terreno ao lado, aonde caminhões do porto chegam para
descarregar entulho”, lembra o morador Leandro Régis de Souza, de 25
anos.
O
líder da comunidade endossa a reclamação do morador. Mesmo com tantos
problemas, ele tem medo de ser despejado pela União. “Não temos para
onde ir, se arrumarem para a comunidade um lugar melhor, acho que as
famílias não reclamariam. Estar na Ponta da Praia é bom, mas é estranho
ser vizinho do Porto de Santos”.
Segundo Rui, no ano passado uma pessoa apresentou-se na comunidade como advogado da Codesp, ameaçando despejar todos os moradores da Vila Sapo por meio de ações individuais na justiça, o que dificultaria qualquer tentativa de defesa dos vizinhos do porto. “Espero que a União nos procure e tente resolver a situação com calma, respeitando um pouco de nossas vontades e garantindo dignidade para a galera que mora junto há mais de 20 anos”.
Repercussão
Para
o secretário de Assuntos Portuários de Santos, Sérgio Aquino, a
existência da Favela da Vila Sapo é algo inaceitável em uma região
portuária. A solução ideal, segundo ele, é a retirada dos moradores para
um conjunto habitacional, para posterior utilização da área portuária
como um pólo náutico, gerando empregos para a Baixada.
“Nós
já pedimos a posse do terreno que abriga a Favela Vila Sapo junto à
União. Eles podem repassar o local para a Prefeitura ou tomar uma
atitude própria para deslocar a população e não permitir que haja uma
área residencial próximo à Avenida Mario Covas, uma contradição quando
se fala em falta de espaço para crescimento do maior porto do país”.
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