Vereador e professor Kenny Pires Mendes
(Foto: Mariane Rossi/G1)
Canadense de nascimento mas brasileiro de coração, um vereador de
Santos,
no litoral de São Paulo, tem apresentado projetos diferentes e
alternativos para tentar transformar a política brasileira. Ex-militar e
engenheiro, Kenny Pires Mendes acumula também a função de professor
universitário e se especializou em usar ideias do exterior como base
para vários dos seus projetos.
Após se eleger como vereador, Kenny afirmou que daria prioridade a
projetos de educação. Apesar disso, ele acabou se destacando nos
assuntos ligados ao meio ambiente e mobilidade urbana. Ele foi autor da
Lei Municipal Complementar 831, que criou o programa Cidade Sem Lixo, em
vigor desde 6 de julho e que multa as pessoas que jogarem lixo nas
ruas.
Kenny recebeu a equipe do
G1 em seu gabinete na Câmara
de Santos. Ele falou sobre o seu primeiro projeto aprovado, as
dificuldades políticas e financeiras e os projetos modernos criados em
outros países que ele pretende trazer para Santos. O vereador também
contou como é a relação com os alunos, que o auxiliam no trabalho como
vereador, e o sucesso dele no Facebook, onde tem dezenas de milhares de
seguidores.
G1: Essa é sua primeira vez na política. Como tem sido a sua experiência como vereador?Kenny:
Logo no início, eu quis fazer algo diferente. Ao invés de cavaletes, eu
espalhei lixeiras escrito: “Precisamos de mais lixeiras e não de
cavaletes, campanha limpa”. O impacto foi muito bom, mas ao mesmo tempo
ganhei inimizades de outros políticos que usavam cavaletes, que se
sentiram ofendidos. Na minha cabeça, eu continuo achando que não dá para
fazer uma campanha sujando, atrapalhando prejudicando a cidade se você
está com o intuito de melhorá-la futuramente. Tem sido muito positivo.
Eu dei a sorte de ter sido eleito com um prefeito que também tem uma
mente aberta para inovações, para projetos modernos, inovadores. Eu tive
muita sorte quanto a isso. A abertura tem sido muito boa.
Cidadãos que jogarem lixo no chão começarão a
ser multados (Foto: Guilherme Lucio/G1)
G1: Algum ponto negativo nesse período?
Kenny:
Algumas coisas que me frustram são a morosidade, a burocracia. A lei
‘Cidade Sem Lixo’ levou um ano e meio para ser aprovada. Foi um dos
primeiros trabalhos que eu fiz logo quando eu assumi só que, até passar
por todo o processo, todas as comissões, até ser feita a conversa como o
executivo, com todas as secretarias, demorou. Não adianta só aprovar a
lei e ela existir apenas no papel, tem que fazer ela se tornar
realidade. As reuniões com os secretários para que a gente pudesse
viabilizar tudo isso demoraram. Ela ainda está no processo de
implantação porque obviamente, com a população que nós temos, de cerca
de 400 mil pessoas, não dá para estar em todos os lugares ao mesmo
tempo. A solução foi capacitar a Guarda Municipal para que eles também
pudessem autuar os munícipes. Eles estão sendo formados em turmas de 30.
Quando todos os 500 estiverem formados, isso vai levar aproximadamente
um ano, a lei vai funcionar como ela realmente deve. Já houve grandes
impactos. No primeiro mês, 450 toneladas a menos de lixo foram jogados
nas ruas, só pelo fato da lei existir. O governo economizou R$ 100 mil.
Lixeiras subterrâneas em Santos
(Foto: Reprodução/Professor Kenny)
G1: Você tem projetos, principalmente, na área de meio
ambiente. Muitos deles são trazidos de outros países. Quais são as
ideias que você pretende implantar em Santos e que já estão fazendo
efeito lá fora?
Kenny: São várias. As
lixeiras subterrâneas já estão pegando. Há duas semanas fiz uma
solicitação para que elas sejam ampliadas para o Gonzaga, Aparecida, a
região dos Morros e na rua Lobo Viana, que fica uma sujeira enorme,
principalmente, no fim de semana por causa dos alunos. As lixeiras não
estavam dando conta.
G1: Você também tem vários projetos na área da reciclagem...
Kenny: Um sonho que eu tenho são as máquinas recicladoras de
garrafas pet e latas de alumínio. Lá fora, inclusive viralizou um video
na internet, uma pessoa recolhe garrafas pet, leva até o supermercado,
recicla essas garrafas e latas, recebe um ticket, vai no caixa e troca
por mercadoria, para comer. Os donos da empresa que fazem essas máquinas
já estiveram no meu gabinete. Eles são noruegueses. Estou buscando
recursos federais para poder comprar as máquinas que custam US$ 55 mil.
Atualmente, com a emenda parlamentar de vereador, não seria possível
fazer a aquisição. Estou viabilizando emendas do governo federal ou
estadual para que a gente possa ter isso no ano que vem. A ideia que eu
tive foi fazer a reciclagem, retirar essas garrafas dos lixões que
ocupam muito espaço e diminuir a vida útil dos aterros sanitários. Você
vai lá, recolhe as garrafas, coloca na máquina, ela é triturada,
preparada, prensada, reciclada e você encosta o cartão de transporte e
credita. Você vai pagar o ônibus com lixo. Vai incentivar duas coisas:
deixar as pessoas mais conscientizadas em reciclagem a deixarem o seu
carro em casa e utilizar o transporte público e as pessoas que não tem
acesso ao transporte público acessarem. Outra interessante são os
ecopontos de óleo doméstico grandes, separados pela cidade, com uma vaga
de carro em frente. O munícipe vai lá, desce do carro, joga a sua
garrafa de óleo lá dentro. O óleo é feito biodiesel. Com 10 litros de
óleo doméstico você gera oito litros de biodiesel. Com esse biodiesel
você pode movimentar a frota de ônibus urbana e também os veículos da
prefeitura, gerando uma grande economia.
G1: E sobre as lixeiras com painéis solares?
Kenny: Eu estive no ano passado no sul da França. Eu vi essas
lixeiras, tirei uma foto em Saint Tropez. São lixeiras com painel solar e
são compactadoras, como um caminhão de lixo. Essas lixeiras abrigam 10
vezes mais que uma lixeira normal. A prefeitura de São Paulo viu a minha
postagem, entrou em contato com a empresa, e outro dia eu estava
passeando na Oscar Freire e vi duas dessas. Eles me falaram que o preço
era acessível e contratamos.
G1: Um dos seus projetos mais curiosos é o Skate Santos. Será que vai virar?Kenny:
No início as pessoas não aceitavam o Bike Santos e ele saiu. Agora
penso no Skate Santos. Será que seria possível? Quero sentir a ideia. A
foto que postei de um skate, em Nova York, foi a ação de um banco. É
cobrado. Não sei como funcionaria aqui. Mas a ideia é as pessoas
alugarem os skates assim como fazem com as bicicletas.
Página do vereador no Facebook
(Foto: Reprodução/Facebook)
G1: Você tem muito apelo nas redes sociais, faz muitas
postagens e consegue interagir bastante. Porque você acha que as pessoas
te seguem e acredita essa interação auxilia o seu trabalho como
vereador?
Kenny: Muito. Desde o começo, eu
já era assim nos meus perfis sociais como professor. Eu sempre
interagia muito com os meus alunos. Durante as campanhas, eu lançava as
minhas ideias e as pessoas respondiam. Mas, o segredo das redes sociais,
é o contato direto. Eu, apesar de ter três assessores no gabinete e
mais dois na primeira secretaria, respondo, porque sou eu que conheço a
pessoa. O segredo é esse. Você tem que conseguir tempo. É uma coisa que
consome muito tempo. Durmo 4 a 5 horas por dia. Tem muitos políticos que
tem respostas padrões, mas a pessoa vai perceber isso. O segredo é se
dedicar de corpo e alma, é o que eu tenho feito ao longo dos anos nas
redes sociais e tem funcionado. Não é nem uma questão de estratégia, é
de sinceridade, de honestidade.
G1: Você continua dando
aulas, mesmo sendo vereador. Logo quando você se elegeu, você falou que
os alunos te incentivaram muito. Você consegue ter tempo para eles e
ouví-los como munícipes?
Kenny: É comum. Eu converso muito em sala de aula. Toda a vez
que eu vou lançar um projeto que merece ser mais ouvido pela comunidade,
as primeiras pessoas que eu pergunto são os meus alunos, dentro da sala
de aula, enquanto eles estão fazendo os exercícios. Quando eu falei
para o pessoal que eu estava com vontade de multar quem jogasse lixo no
chão foi apoio geral. Eu senti que dá para fazer isso.
Kenny no gabinete dele (Foto: Mariane Rossi/G1)
G1: Sobre a educação. Você cria projetos a partir do que vê na sala de aula?Kenny:
O meu primeiro requerimento foi a implantação de ar condicionado nas
salas de aulas. No ano que eu assumi, foi um dos verões mais quentes,
foi uma loucura, a cidade virou um 'forno'. Com a ventilação ligada na
minha sala de aula, eu já sentia o calor. Ficava imaginando os
professores na rede pública. Eu apresentei o projeto na primeira sessão
de 2013. A resposta que eu tive foi que não tinha recursos financeiros
para isso. Fiz uma indicação da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias)
estipulando para o ano seguinte, pedindo a reserva de recursos para a
implantação de ar e foi feito isso. Eles estão começando a ser
instalados. Vai ser bom tanto para os professores como para os alunos.
Kenny mostra a bicicleta que tem no gabinete
(Foto: Mariane Rossi/G1)
G1: Por várias vezes você disse, nessa nossa entrevista, que
não há verba para realizar projetos. Como ter sustentabilidade e
trabalhar isso com a questão política e orçamentária?Kenny:
A primeira opção que eu busco é na prefeitura. Se eu estou vendo que
não tem como, eu vou buscar em emendas complementares de deputados, como
fiz no ano passado. Como, por exemplo, o bibliopraia, que é a
biblioteca na areia da praia. Eu fui até Brasília e busquei recursos no
Ministério da Cultura, no fundo da Biblioteca Nacional do Brasil. Eu
apresentei o projeto, disse que não tínhamos recurso para este ano na
Prefeitura de Santos, e eles me enviaram uma emenda de R$ 100 mil para
tirar o projeto do papel. Mas, quando eu digo sobre cidade sustentável, é
um tema tão complexo, que é preciso ver lá na frente. É muita coisa
envolvida. A partir do momento que você tem uma cidade mais segura, um
transporte de qualidade, uma cidade com uma boa mobilidade urbana, com
ciclovias, transporte público eficiente, a pessoa vai se exercitar mais,
andar mais, vai dar menos despesa para o órgão público. É muita coisa
envolvida.
G1: Quando se elegeu, você falou que tinha o ‘sonho de morar aqui (Brasil) com a política de lá (Canadá)’ e que queria trazer mudanças. Você acha que está conseguindo trazer mudanças baseada nesse seu sonho?
Kenny:
Muito pouquinho porque é muito difícil. Como eu já disse, um projeto
levou um ano. Eu já apresentei uma dezena de projetos que estão para ser
aprovados no futuro. Eu acredito que, quando tudo isso passar, vai
começar a fazer um pouco de diferença sim. Depois de estar dentro da
política percebi algumas coisas. Infelizmente, os municípios, com a
atual política, ainda são muito dependentes dos governos estaduais e
federais. Sem eles não conseguiriam sobreviver. Graças a Deus, a nossa
cidade tem um ótimo relacionamento com o governo do estado. O governador
está todas as semanas aqui, mas, infelizmente, o governo federal não.
Isso acaba deixando um vácuo. Seria bom se os dois agissem da mesma
forma não apenas com Santos, mas com o Brasil inteiro.
Vereador falou que conseguiu melhorar um pouco a realidade da cidade (Foto: Mariane Rossi/G1)