sábado, 15 de novembro de 2014

Prof Kenny, Canadense entre os santistas no Legislativo



'Pop' entre estudantes, canadense tenta transformar a política santista

12/11/2014 07h56 - Atualizado em 12/11/2014 10h10

Kenny Mendes tem o sonho de tornar a política brasileira igual a canadense.
Vereador se destaca com assuntos ligados ao meio ambiente e mobilidade.

Mariane Rossi Do G1 Santos
Vereador professor Kenny, na Câmara de Santos (Foto: Mariane Rossi/G1) 
Vereador e professor Kenny Pires Mendes
(Foto: Mariane Rossi/G1)

Canadense de nascimento mas brasileiro de coração, um vereador de Santos, no litoral de São Paulo, tem apresentado projetos diferentes e alternativos para tentar transformar a política brasileira. Ex-militar e engenheiro, Kenny Pires Mendes acumula também a função de professor universitário e se especializou em usar ideias do exterior como base para vários dos seus projetos.
Após se eleger como vereador, Kenny afirmou que daria prioridade a projetos de educação. Apesar disso, ele acabou se destacando nos assuntos ligados ao meio ambiente e mobilidade urbana. Ele foi autor da Lei Municipal Complementar 831, que criou o programa Cidade Sem Lixo, em vigor desde 6 de julho e que multa as pessoas que jogarem lixo nas ruas.

Kenny recebeu a equipe do G1 em seu gabinete na Câmara de Santos. Ele falou sobre o seu primeiro projeto aprovado, as dificuldades políticas e financeiras e os projetos modernos criados em outros países que ele pretende trazer para Santos. O vereador também contou como é a relação com os alunos, que o auxiliam no trabalho como vereador, e o sucesso dele no Facebook, onde tem dezenas de milhares de seguidores.

G1: Essa é sua primeira vez na política. Como tem sido a sua experiência como vereador?
Kenny: Logo no início, eu quis fazer algo diferente. Ao invés de cavaletes, eu espalhei lixeiras escrito: “Precisamos de mais lixeiras e não de cavaletes, campanha limpa”. O impacto foi muito bom, mas ao mesmo tempo ganhei inimizades de outros políticos que usavam cavaletes, que se sentiram ofendidos. Na minha cabeça, eu continuo achando que não dá para fazer uma campanha sujando, atrapalhando prejudicando a cidade se você está com o intuito de melhorá-la futuramente. Tem sido muito positivo. Eu dei a sorte de ter sido eleito com um prefeito que também tem uma mente aberta para inovações, para projetos modernos, inovadores. Eu tive muita sorte quanto a isso. A abertura tem sido muito boa.
Cidadãos que jogarem lixo no chão começarão a ser multados (Foto: Guilherme Lucio/G1) 
 
Cidadãos que jogarem lixo no chão começarão a
ser multados (Foto: Guilherme Lucio/G1)
G1: Algum ponto negativo nesse período?

Kenny: Algumas coisas que me frustram são a morosidade, a burocracia. A lei ‘Cidade Sem Lixo’ levou um ano e meio para ser aprovada. Foi um dos primeiros trabalhos que eu fiz logo quando eu assumi só que, até passar por todo o processo, todas as comissões, até ser feita a conversa como o executivo, com todas as secretarias, demorou. Não adianta só aprovar a lei e ela existir apenas no papel, tem que fazer ela se tornar realidade. As reuniões com os secretários para que a gente pudesse viabilizar tudo isso demoraram. Ela ainda está no processo de implantação porque obviamente, com a população que nós temos, de cerca de 400 mil pessoas, não dá para estar em todos os lugares ao mesmo tempo. A solução foi capacitar a Guarda Municipal para que eles também pudessem autuar os munícipes. Eles estão sendo formados em turmas de 30. Quando todos os 500 estiverem formados, isso vai levar  aproximadamente um ano, a lei vai funcionar como ela realmente deve. Já houve grandes impactos. No primeiro mês, 450 toneladas a menos de lixo foram jogados nas ruas, só pelo fato da lei existir. O governo economizou R$ 100 mil.
Lixeiras subterrâneas em Santos (Foto: Reprodução/Professor Kenny)Lixeiras subterrâneas em Santos

(Foto: Reprodução/Professor Kenny)
G1: Você tem projetos, principalmente, na área de meio ambiente. Muitos deles são trazidos de outros países. Quais são as ideias que você pretende implantar em Santos e que já estão fazendo efeito lá fora?

Kenny: São várias. As lixeiras subterrâneas já estão pegando. Há duas semanas fiz uma solicitação para que elas sejam ampliadas para o Gonzaga, Aparecida, a região dos Morros e na rua Lobo Viana, que fica uma sujeira enorme, principalmente, no fim de semana por causa dos alunos. As lixeiras não estavam dando conta.

G1: Você também tem vários projetos na área da reciclagem...
Kenny:
Um sonho que eu tenho são as máquinas recicladoras de garrafas pet e latas de alumínio. Lá fora, inclusive viralizou um video na internet, uma pessoa recolhe garrafas pet, leva até o supermercado, recicla essas garrafas e latas, recebe um ticket, vai no caixa e troca por mercadoria, para comer. Os donos da empresa que fazem essas máquinas já estiveram no meu gabinete. Eles são noruegueses. Estou buscando recursos federais para poder comprar as máquinas que custam US$ 55 mil. Atualmente, com a emenda parlamentar de vereador, não seria possível fazer a aquisição. Estou viabilizando emendas do governo federal ou estadual para que a gente possa ter isso no ano que vem. A ideia que eu tive foi fazer a reciclagem, retirar essas garrafas dos lixões que ocupam muito espaço e diminuir a vida útil dos aterros sanitários. Você vai lá, recolhe as garrafas, coloca na máquina, ela é triturada, preparada, prensada, reciclada e você encosta o cartão de transporte e credita. Você vai pagar o ônibus com lixo. Vai incentivar duas coisas: deixar as pessoas mais conscientizadas em reciclagem a deixarem o seu carro em casa e utilizar o transporte público e as pessoas que não tem acesso ao transporte público acessarem. Outra interessante são os ecopontos de óleo doméstico grandes, separados pela cidade, com uma vaga de carro em frente. O munícipe vai lá, desce do carro, joga a sua garrafa de óleo lá dentro. O óleo é feito biodiesel. Com 10 litros de óleo doméstico você gera oito litros de biodiesel. Com esse biodiesel você pode movimentar a frota de ônibus urbana e também os veículos da prefeitura, gerando uma grande economia.

G1: E sobre as lixeiras com painéis solares?
Kenny:
Eu estive no ano passado no sul da França. Eu vi essas lixeiras, tirei uma foto em Saint Tropez. São lixeiras com painel solar e são compactadoras, como um caminhão de lixo. Essas lixeiras abrigam 10 vezes mais que uma lixeira normal. A prefeitura de São Paulo viu a minha postagem, entrou em contato com a empresa, e outro dia eu estava passeando na Oscar Freire e vi duas dessas. Eles me falaram que o preço era acessível e contratamos.

G1: Um dos seus projetos mais curiosos é o Skate Santos. Será que vai virar?
Kenny: No início as pessoas não aceitavam o Bike Santos e ele saiu. Agora penso no Skate Santos. Será que seria possível? Quero sentir a ideia. A foto que postei de um skate, em Nova York, foi a ação de um banco. É cobrado. Não sei como funcionaria aqui. Mas a ideia é as pessoas alugarem os skates assim como fazem com as bicicletas.
Fan page do vereador no facebook (Foto: Reprodução/Facebook)Página do vereador no Facebook

(Foto: Reprodução/Facebook)
G1: Você tem muito apelo nas redes sociais, faz muitas postagens e consegue interagir bastante. Porque você acha que as pessoas te seguem e acredita essa interação auxilia o seu trabalho como vereador?

Kenny: Muito. Desde o começo, eu já era assim nos meus perfis sociais como professor. Eu sempre interagia muito com os meus alunos. Durante as campanhas, eu lançava as minhas ideias e as pessoas respondiam. Mas, o segredo das redes sociais, é o contato direto. Eu, apesar de ter três assessores no gabinete e mais dois na primeira secretaria, respondo, porque sou eu que conheço a pessoa. O segredo é esse. Você tem que conseguir tempo. É uma coisa que consome muito tempo. Durmo 4 a 5 horas por dia. Tem muitos políticos que tem respostas padrões, mas a pessoa vai perceber isso. O segredo é se dedicar de corpo e alma, é o que eu tenho feito ao longo dos anos nas redes sociais e tem funcionado. Não é nem uma questão de estratégia, é de sinceridade, de honestidade.

G1: Você continua dando aulas, mesmo sendo vereador. Logo quando você se elegeu, você falou que os alunos te incentivaram muito. Você consegue ter tempo para eles e ouví-los como munícipes?

Kenny:
É comum. Eu converso muito em sala de aula. Toda a vez que eu vou lançar um projeto que merece ser mais ouvido pela comunidade, as primeiras pessoas que eu pergunto são os meus alunos, dentro da sala de aula, enquanto eles estão fazendo os exercícios. Quando eu falei para o pessoal que eu estava com vontade de multar quem jogasse lixo no chão foi apoio geral. Eu senti que dá para fazer isso.
Kenny em seu gabinete (Foto: Mariane Rossi/G1)Kenny no gabinete dele (Foto: Mariane Rossi/G1)
 
G1: Sobre a educação. Você cria projetos a partir do que vê na sala de aula?
Kenny: O meu primeiro requerimento foi a implantação de ar condicionado nas salas de aulas. No ano que eu assumi, foi um dos verões mais quentes, foi uma loucura, a cidade virou um 'forno'. Com a ventilação ligada na minha sala de aula, eu já sentia o calor. Ficava imaginando os professores na rede pública. Eu apresentei o projeto na primeira sessão de 2013. A resposta que eu tive foi que não tinha recursos financeiros para isso. Fiz uma indicação da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) estipulando para o ano seguinte, pedindo a reserva de recursos para a implantação de ar e foi feito isso. Eles estão começando a ser instalados. Vai ser bom tanto para os professores como para os alunos.
Kenny mostra a bicicleta que tem no gabinete (Foto: Mariane Rossi/G1)Kenny mostra a bicicleta que tem no gabinete
(Foto: Mariane Rossi/G1)
 
G1: Por várias vezes você disse, nessa nossa entrevista, que não há verba para realizar projetos. Como ter sustentabilidade e trabalhar isso com a questão política e orçamentária?
Kenny: A primeira opção que eu busco é na prefeitura. Se eu estou vendo que não tem como, eu vou buscar em emendas complementares de deputados, como fiz no ano passado. Como, por exemplo, o bibliopraia, que é a biblioteca na areia da praia. Eu fui até Brasília e busquei recursos no Ministério da Cultura, no fundo da Biblioteca Nacional do Brasil. Eu apresentei o projeto, disse que não tínhamos recurso para este ano na Prefeitura de Santos, e eles me enviaram uma emenda de R$ 100 mil para tirar o projeto do papel. Mas, quando eu digo sobre cidade sustentável, é um tema tão complexo, que é preciso ver lá na frente. É muita coisa envolvida. A partir do momento que você tem uma cidade mais segura, um transporte de qualidade, uma cidade com uma boa mobilidade urbana, com ciclovias, transporte público eficiente, a pessoa vai se exercitar mais, andar mais, vai dar menos despesa para o órgão público. É muita coisa envolvida.

G1: Quando se elegeu, você falou que tinha o ‘sonho de morar aqui (Brasil) com a política de lá (Canadá)’ e que queria trazer mudanças. Você acha que está conseguindo trazer mudanças baseada nesse seu sonho?

Kenny: Muito pouquinho porque é muito difícil. Como eu já disse, um projeto levou um ano. Eu já apresentei uma dezena de projetos que estão para ser aprovados no futuro. Eu acredito que, quando tudo isso passar, vai começar a fazer um pouco de diferença sim. Depois de estar dentro da política percebi algumas coisas. Infelizmente, os municípios, com a atual política, ainda são muito dependentes dos governos estaduais e federais. Sem eles não conseguiriam sobreviver. Graças a Deus, a nossa cidade tem um ótimo relacionamento com o governo do estado. O governador está todas as semanas aqui, mas, infelizmente, o governo federal não. Isso acaba deixando um vácuo. Seria bom se os dois agissem da mesma forma não apenas com Santos, mas com o Brasil inteiro.

Vereador falou que conseguiu melhorar um pouco a realidade da cidade (Foto: Mariane Rossi/G1)Vereador falou que conseguiu melhorar um pouco a realidade da cidade (Foto: Mariane Rossi/G1)

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